O cartel como engajamento na escola

2 de dezembro de 2019by Ato Freudiano0
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É possível pensar que a responsabilidade sexual de que Lacan fala no seminário do Sinthoma se refere à posição inconsciente de cada um diante da não-relação.

Nesse sentido, a produção do saber inconsciente daquele que pretende ser analista remete ao cartel. Este dispositivo constitui possível via de acesso ao engajamento na escola de psicanálise; via essa de mão-dupla, onde o sujeito, também, poderá obter da escola a garantia de colocá-lo em relação com a sua formação.

É importante ressaltar que não se trata de uma formação profissional. O cartel, na base da escola, questiona o desejo do analista. 

O cartel como engajamento na escola

A própria formalização do cartel se abre com a inscrição de um, sob transferência de um tema, e fica no aguardo de mais dois, quatro ou até cinco, como um grupo que, embora sem líder, identifica-se. E busca numa pessoa qualquer, mas real, aquele que representa o lugar vazio, o da falta-a-saber, o “mais-um” do cartel. Este que tem como primeira tarefa inscrever o cartel na escola e a partir daí, dá partida com um texto de Freud ou de Lacan, permitindo a cada um se situar em nome próprio e operar o saber em jogo. O que vale para ele também, que ao se situar como um, que busca saber no texto, faz com que a função “mais-um” circule e apareça ora em um ora em outro participante do cartel.

Esta formalização provoca o sobressalto de significantes do texto que tenham ligação com o saber inconsciente construído em sua análise a um endereçamento ao saber de Freud e de Lacan. Sabemos que, inevitavelmente, de significante a significante cai um resto que pode levar a elaboração de um novo texto.   

O produto de cada um do cartel, como um novo texto endereçado a escola, servindo-a como um material que reforce a sustentação de sua base, deve ser exposto a alguns outros, em uma jornada de trabalho, onde possa provocar, não só questões como também abertura de novos cartéis. 

Podemos dizer que “a formação do psicanalista requer é uma organização, eu não diria önde isso fala”, mas onde possa falar o sujeito que deveria ter surgido lá onde isso estava”.

Esta transmissão de sujeito a sujeito coloca em evidência a transferência de trabalho que ao dar vida a escola garante a formação do psicanalista.

Se a formação do psicanalista é permanente e só se faz em uma escola de psicanálise, ela depende da prática da “psicanálise pura”, isto é, da cultura do inconsciente, sustentada pela transferência que enoda o saber inconsciente do sujeito com o saber textual da psicanálise com o saber da clínica.

Uma escola de psicanálise pode garantir a formação do psicanalista que esteja fora do dispositivo?                                   

Juiz de Fora, 05 de setembro de 2019.

Comissão de cartéis do Ato Freudiano – Escola de Psicanálise

Marina Valle

Silvânia Marques Motta

Suréia Iásbeck

S. Moustapha, Jacques Lacan e a questão da formação dos analistas. Artes Médicas,1985, p.70.

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